quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Em busca do Novo Mundo

Entrevista Dada Mahesvarananda
Jornal Hoje em Dia - Capa do Caderno de Cultura
Terça-feira, 21/05/2002

Uma dobradinha entre economia e cultura, para minimizar os efeitos colaterais da globalização: eis a porta de entrada às idéias do ativista social, cientista político e monge Dada Maheshvarananda, que lança hoje o livro “Após o Capitalismo”.

Norte-americano que deixou seu país por discordar do imperialismo que desembocou na guerra do Vietnã, ele aposta na teoria da utilização progressiva, como forma de se combater o global pelo local.

Mahesvarananda defende a coesão sócio-cultural entre Ocidente e Oriente, em busca de alternativas à paz mundial. Seu livro vem conquistando leitores como Leonardo Boff, um dos artífices da Teologia da Libertação, e o ensaísta norte-americano Noam Chomsky, um dos intelectuais mais respeitados da atualidade.

Para Chomsky, o modelo do monge escritor, baseado em cooperativas, é arma eficaz no combate das astúcias neoliberais: “Visões alternativas são cruciais neste momento da história. O modelo cooperativo de uma democracia econômica, baseada em valores humanos fundamentais e no compartilhamento dos recursos do planeta, para o bem-estar de todos, merece nossa séria consideração”. Sensato e bem-humorado, o monge escritor lembra que sua vestimenta alaranjada sempre causa olhares de espanto. “Tem gente que acha que sou Osama Bin Laden”, ironiza.


O senhor participou recentemente do Fórum Social Mundial em Porto Alegre. Que balanço faz deste modelo de reação política à globalização?

É um processo dfe conscientizar o povo, representando cinco mil entidades, 186 diferentes idiomas, mais de 67 mil participantes, juntos, para realizar o sonho comum de que outro mundo é possível. Esta solidariedade é uma chance para mudarmos nosso mundo. Os poderes econômicos que o jornal Financial Times chama de “Mestres do Universo” estavam controlando a globalização mundial. Eles nunca foram eleitos e estão, em segredo, tomando decisões como maximizar lucros para as operações multinacionais. Simultaneamente, o Fórum estava despindo a democracia popular. As organizações não governamentais e as entidades da sociedade civil têm muito poder para unir o povo e construir este novo mundo. Meu livro é um modelo para responder que tipo de mundo nós queremos.

Suas idéias partem do pressuposto de que o capitalismo contém as sementes de sua própria destruição, como a ganância, a intensa competição e a concentração de riqueza nas mãos de poucos. Sua teoria propõe um modelo de desenvolvimento econômico fundamentado em valores universais, equilibrado entre a agricultura e a indústria. Como é este modelo?


A teoria da utilização progressiva, o Prout, é um modelo baseado nas cooperativas, que são mais democráticas, permitindo a participação de cada pessoa, construindo uma economia que garanta as necessidades básicas, que são cinco: alimentação, vestuário, moradia, educação e saúde. Este modelo vai promover o desenvolvimento físico, mental e espiritual do ser humano. Hoje em dia, o Brasil é um país muito rico em recursos naturais e também em recursos humanos. Por quê o povo é pobre? Prout é o modelo para compartilhar nossos recursos e construir um País beneficiando todo mundo.

Quanto à noção de auto-suficiência das regiões que preservam suas características culturais: isso seria melhor arma para se combater o global?



Sim.

Os recursos em cada região devem ser processados em fábricas localizadas próximas às oprigents dos recursos, também em áreas rurais que são economicamente, pobres. Em alguns casos, tivemos de estabelecer agro-indústrias e cooperativas que vão processar a safra agrícola. Também necessitamos de indústrias para fabricar as coisas necessárias para a agricultura,. Como as ferramentas e os fertilizantes orgânicos. É uma economia integrada para criar empregos e, através de cooperativas, melhorarem o produto.

Cada vez mais, o modelo hegemônico mundial é centrado na exacerbação do individualismo, na negação da coletividade e na ausência de sensibilidade, humanismo e espiritualidade. O que pode ser feito para amenizar os efeitos desses males?

Acredito que nós podemos construir no mundo uma economia apropriada PA Ra o desenvolvimento do ser humano em todos os seus aspectos, melhorando a qualidade de vida de cada. A democratização intensiva egocentrismo do tipo “eu venço e o resto do mundo perde”. Essa atitude está destruindo a ecologia, os seres humanos e a cultura deste planeta. Precisamos controlar o instinto e ganância e encorajar o cooperativismo para o bem estar. É um sonho prático e dinâmico para incentivar a criatividade e a iniciativa de cada ser.

Como norte-americano, o senhor entrou em contato com a cultura e outro modelo de pensamento? O que o Oriente reserva de mais útil e necessário ao Ocidente?

Minha universidade nos Estados Unidos era ativa no movimento estudantil conta a Guerra do Vietnã. Eu li os livros de Paulo Freire, como requisito no curso de Ciência Política. Entendi neste movimento que a guerra era apenas um sintoma de um sistema exploratório da política econômica dos Estados Unidos. Aprendi Yoga e meditação, que me inspiraram, E depois viajei para a Índia em, 1978, onde me formei como monge e professor de meditação.

Lá encontrei o fundador do Prout, o indiano Prabhat Sarkar, na sua cela. Ele foi prisioneiro político por sete anos, devido à sua oposição à corrupção sistêmica das castas. Aprendi que a meditação é fundamental, neste processo de auto-desenvolvimento e reflexão sobre a situação do mundo.

Um comentário:

Aquecedor Solar de Baixo Custo BH-MG disse...

Muito boa resenha! Obrigado por postar informações! Terraqueos.