quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O MODELO DE PROUT PARA UMA TRANSFORMAÇÃO TOTAL DA SOCIEDADE

Por Dada Maheshvarananda

Uma pintura enorme do herói revolucionário Tiradentes está ao lado de um prédio em Belo Horizonte. Abaixo há uma frase que ele disse que me inspirou todos os dias quando por ali passo: “Se todos quisessem, poderíamos fazer do Brasil uma grande nação.”

Seu sonho de um país independente já foi realizado. Nosso desafio é realizar esta visão de Tiradentes, de fazer do Brasil uma grande nação. O tópico deste programa é o modelo de PROUT para uma transformação total da sociedade.

Eu acredito que o capitalismo está destinado a acabar, e que uma depressão econômica mundial logo começará. Eu acredito que a Teoria da Utilização Progressiva ou PROUT é a alternativa que pode criar uma nova sociedade brasileira, sem pobreza, sem exclusão, auto-suficiente, com uma alta qualidade da vida para todo mundo.

Gostaria de começar explicando porque eu acho que o capitalismo está com os dias contados.

Prabhat Ranjan Sarkar, nosso Baba, disse que há três problemas maiores que causam grandes depressões econômicas. O primeiro é a grande concentração da riqueza. Desde 1960, as riquezas mundiais foram multiplicadas por oito. Mas estas riquezas estão acumuladas nas mãos das pessoas mais ricas no mundo. Por exemplo, os diretores das corporações multinacionais estão recebendo altos salários com opções de comprar ações que a revista capitalista Forbes descreveu como “escandalosos”: o diretor do Citibank recebeu 151 milhões de dólares no ano passado. A General Electric pagou ao seu diretor US$125 milhões. A Rede Disney pagou US$575 milhões. A Apple Computer pagou a Steve Jobs $872 milhões, que é 30.000 vezes mais do que os funcionários da Apple em geral estão sendo pagos a cada ano!

O Brasil também tem uma tremenda concentração da riqueza. Todos os oito homens mais ricos no país são bilionários, com uma riqueza total de mais de US$ bilhões.

A riqueza total das 200 pessoas mais ricas no mundo mais do que dobrou durante os últimos quatro anos. Este é mais do que o total da renda anual de 3 bilhões de seres humanos, a metade dos habitantes do mundo.

A segunda causa das depressões mundiais é a pouca circulação do dinheiro. A grande maioria destas riquezas não está investida em qualquer forma produtiva. Não está investida para iniciar novas empresas, nem pagando mais salários, nem produzindo mais produtos. Está acumulada nas mãos dos super ricos, e eles estão jogando 2 trilhões de dólares diariamente no grande cassino mundial das bolsas dos valores, especulando, comprando e vendendo ações para ganhar rapidamente muito lucro. Os valores das bolsas são insanamente altos, uma bolha especulativa de proporções incríveis, completamente baseada na confiança -- numa falsa confiança. Infelizmente, mais de metade das famílias norte-americanos já investiram suas economias e sua poupança nas bolsas de valores.

Os professores da respeitosa Escola de Comercio da Universidade de Duke nos EUA estão discutindo a possibilidade de proibir os estudantes de entrar nas aulas com computadores notebooks. Por quê? Porque eles não estão anotando as palestras, eles estão usando seus telefones celulares para conectar na Internet, comprando e vendendo ações nas bolsas de valores, às vezes ganhando milhares de dólares de lucro durante as aulas!

Que importância estes americanos super ricos têm para o Brasil? Muito! Porque a economia capitalista está cada vez mais ligada e conectada. Se a bolsa de valores em Novo Iorque vai começar de cair, se o valor do dólar vai cair, em apenas minutos a Bolsa das Valores em São Paulo e o real vão cair, também.

A terceira razão das depressões econômicas é a redução do poder de compra da população. A economia norte americano é hoje o mais forte no mundo, mas naquele país 400.000 empregos são despedidas semanalmente. No último ano nos Estados Unidos, mais de um milhão e meio de indivíduos e empresas faliram. No Brasil, o governo estadual de São Paulo anunciou que quase 70% das pequenas empresas quebrou durante os primeiros dois anos de sua fundação, e há muitas mais falidas por indivíduos da economia informal.

A pobreza e o sofrimento do nosso planeta estão crescendo. América Latina tem 442 milhões habitantes, com mais da metade, 250 milhões, vivendo abaixo da linha da pobreza. De cada dois habitantes do planeta, um vive com menos de US$ 2 por dia. Um em cada 3 não tem acesso à energia elétrica. Um em cada 4 sobrevive com menos de US$1 por dia. Um em cada 5 não tem acesso à água potável. Um em cada 6 é analfabeto. De cada sete adultos, um sofre de fome.

Além deste trágico sofrimento humano, a ganância do sistema capitalista está destruindo o meio ambiente. Durante os últimos cinqüenta anos, nosso planeta perdeu um terço das florestas e um quarto do solo fértil. P. R. Sarkar prevê que este desmatamento causará uma crise de água global nesta década. Hoje não só o Nordeste está sofrendo pela seca, mas também as grandes represas nas regiões sul, sudeste e no centro-oeste têm níveis de água perigosamente baixo para produzir eletricidade. Se você estudar os relatórios, vai entender porque o economista César Benjamin disse:

“O governo brasileiro e a Rede Globo de Televisão ainda passam para a opinião pública a idéia de que o país vive a incerteza de fazer ou não fazer racionamento, e que a sociedade é quem vai decidir sobre isso... Depois de cinco anos de desgoverno, a incerteza que está colocada diante de nós é bem outra. É entre racionamento e colapso.”

Para entender como o modelo de PROUT pode transformar nossa sociedade, devemos observar uma diferença fundamental entre capitalismo e espiritualidade no que diz respeito à propriedade privada. O capitalismo está baseado numa idéia do filósofo John Locke, do século dezessete, que escreveu que o ser humano tem o direito de aplicar sua força para tornar a terra e as coisas do mundo produtivos. Por exemplo, pode desmatar um pedaço da floresta, cultivar a terra e colher a safra. Desta forma, a terra se torna sua propriedade pessoal. O capitalismo disse que podemos comprar a terra ou outras coisas e podemos usá-las como quisermos, porque estas pertençam a nós.

Esta idéia era o oposto da perspectiva de todos os índios das Américas, de todas as sociedades tradicionais da África, dos povos antigos da Índia, China e Austrália, que nunca pensaram assim. Eles não pensavam que a terra pertencia a eles, eles pensavam que eles pertenciam à terra!

P. R. Sarkar expandiu esta perspectiva tradicional. Ele disse: “Este universo é nosso patrimônio comum. Nossa grande família é universal, e Parama Purus’a [a Consciência Cósmica] é o Pai Supremo. Como membros de uma grande família, nós devemos adotar a política de “Viver e deixar os outros viverem.” As potencialidades exploradas e não exploradas do mundo não pertencem a qualquer pessoa, estado ou nação em particular. Somente se pode desfrutar estas potencialidades. Nós devemos utilizar toda a riqueza mundana e supramundana, aceitando o princípio da herança Cósmica.”

Todos os princípios de PROUT estão baseados nessa perspectiva espiritual. Primeiramente, o Criador não está separado da Sua Criação, mas permanece e vibra em cada partícula. Não existem objetos inanimados, mas sim, tudo é vital, com a consciência latente. Cada ser vivo tem valor existencial, além do valor utilitário. Então, seres humanos não têm o direito de explorar destrutivamente as plantas, os animais ou a Terra, sem considerar o bem-estar daqueles. O Criador nos convida a usar, mas não a abusar.

Segunda, PROUT não aceitou a propriedade pessoal como um valor moral absoluto. Coletivamente, como irmãos e irmãs numa família, temos o dever e a responsabilidade de utilizar e distribuir os recursos do mundo para o bem-estar de todos.

Por exemplo, como PROUT vai considerar as propriedades imensas no Brasil? O Grupo Bradesco possui 900.000 hectares de terra, o Grupo Antunes-Caemi possui 2.250.000 hectares, e o grupo estrangeiro Manasa/Cifec possui mais de 4 milhões dos hectares, ou 40.000 quilômetros quadrados, equivalente a 90% da área total do estado do Rio de Janeiro! A maioria dessas terras são desmatadas para criar pastos para gado-de-corte, gerando pouquíssimos empregos. Ao mesmo tempo, há milhões de trabalhadores rurais desempregados que não possuem terras para plantar o mínimo necessário.

P. R. Sarkar disse: “Terra não cultivada é um grande prejuízo para a humanidade.” (A Sociedade Humana, Parte I) “No sistema agrícola de PROUT, não há espaço para intermediários. Aqueles que investem capital na contratação de pessoas que trabalham na produção, com o fim de auferir lucro são capitalistas. Os capitalistas, como os parasitas, sugam o sangue de trabalhadores industriais e rurais.” (de “Revolução Agrícola” de “Democracia Econômica”)

Quanto custa o fornecimento das cinco necessidades básicas – alimentação, vestuário, moradia, educação e saúde – para todas as 1,3 bilhões de pessoas privadas do mundo? O programa da ONU para o desenvolvimento (PNUD) e a Unicef calculam que um investimento anual de US$80 bilhões, ao longo de dez anos, seria o suficiente para assegurar a cada pessoa alimentação, educação e saneamento básico, saúde e água potável. A quantia equivale a quatro vezes MENOS o que os países em desenvolvimento desembolsam anualmente para amortizar sua dívida externa.

Esta é a terceira conclusão do conceito espiritual de herança Cósmica. A vida e o bem-estar dos seres humanos são as primeiras prioridades da sociedade, e precisa ser sempre precedente a todas as outras responsabilidades financeiras. Então uma economia proutista começará fornecendo as necessidades mínimas de vida para todas as pessoas em cada região e, gradualmente, elevando o padrão de vida.

O professor americano Noam Chomsky explica que existe uma precedência histórica na lei internacional de renunciar uma “dívida odiosa”. Em 1898, a Espanha, após perder sua colônia Cuba, na Guerra Hispano-Americana, demandou que a ilha nova independente precisaria pagar todo o dinheiro que a Espanha investiu lá. Em resposta, o governo dos Estados Unidos declarou ao mundo que essa era uma dívida odiosa que nunca deveria ser paga. Com a mesma lógica, Chomsky diz que, pagar juros a instituições financeiras internacionais quando seres humanos estão sofrendo e morrendo é, com certeza, odioso. Durante os anos 30, o Brasil e nove outros países repudiaram suas dívidas. Então, porque o Brasil, ou qualquer outro país, simplesmente não param de pagar a dívida quando ele não tem condições de faze-lo?

A resposta está no poder tremendo das instituições financeiras mundiais e nas ameaças desumanas que elas fazem. Todos os maiores bancos internacionais e os países mais ricos ameaçam juntos que qualquer país que se recusa a pagar sua dívida será tratada como “pária”. As posses no exterior serão seqüestradas; as exportações do país serão seqüestradas em cada porto aonde elas cheguem; suas companhias aéreas serão incapazes de funcionar; importações de alimentos, medicamentos, todos os tipos de máquinas, tecnologia avançada e acessórios essencialmente necessários serão recusados. O país enfrentará embargos severos, como os que têm sido impostos a Cuba e Iraque. O Departamento de Tesouraria dos Estados Unidos já compilou cuidadosamente uma lista de todos as importações que serão recusadas aos países em falta, incluindo insulina para diabéticos!

Há duas soluções proutistas para esta ameaça severa: primeiramente, cada região de cada país deve se tornar auto-suficiente nas necessidades básicas da vida. Segundo, cada região deve começar a trocar bens com outras regiões com o fim de importar itens que ela não pode produzir, embora evitando a necessidade de pagar com moeda estrangeira.

Por exemplo, para criar auto-suficiência no Brasil, devemos libertar o país da exploração da indústria medicinal das grandes corporações multinacionais, que é a terceira indústria mais lucrativa no mundo (apos petróleo e armas). Em Petrópolis, em Porangaba e em Porto Alegre, Proutistas estão criando projetos comunitários de plantas medicinais. A prefeitura petista de Viamão, no Rio Grande do Sul estava tão inspirada com o projeto de Dharmamitra e Didi Ananda Vandana, que eles querem iniciar em nossa unidade mestre uma cooperativa, cultivando plantas medicinais com o fim de criar 100 empregos para os vizinhos carentes. Isto é PROUT, criando pleno emprego através da produção das necessidades básicas do povo.

Em conclusão, gostaria de compartilhar uma história sobre uma enfermeira da América do Norte. Ela aprendeu meditação e depois viajou para Calcutá, Índia em 1979 para ver Baba. Durante duas semanas, ela foi para Seus programas todos os dias, mas ela não sentia nada. Ela começou de perguntar-se se o seu coração era de pedra! Mas um dia, 6 de outubro, Baba entrou na sala e ela sentiu Sua vibração espiritual como eletricidade. Ela disse que bateu ela como uma parede de tijolos. O assunto do discurso era “A Causa e o Efeito”, e durante o discurso, Ele disse:

“Hoje a humanidade sangra. O futuro é sombrio. Então nós viemos aqui para realizar algo. Eu vim aqui para realizar algo, e você também veio aqui para realizar algo. Minha vinda é significativa, e a sua vinda não é menos significativa. Nós viemos com uma missão, e nossas vidas – individualmente e coletivamente – são uma missão. Não missões. . . Nossa missão é uma missão coletiva. Aqui somos todos um. Nós viemos para realizar algo. Esse é o fator causal.

“E qual será o efeito? O resultado será o de que o mundo irá apreender que a humanidade é uma e indivisível, e que nenhuma força no céu ou na terra pode destruir essa humanidade gloriosa. Nós viemos aqui para salvar a humanidade, e nós iremos salvar a humanidade.”

Apos aquele discurso de Baba, aquela enfermeira americana decidiu de “realizar algo” para a humanidade. Ela voltou para o seu país, foi despedida do seu emprego, vendeu as suas possessões, e foi para o Centro de Treinamento na Suécia para tornar-se monja. Ela trabalhou por 18 anos no Extremo Oriente, e no presente ela está servindo a humanidade carente em Lima, Peru. Seu nome é Didi Ananda Muktivrata.

Vamos realizar algo para a humanidade.

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